terça-feira, outubro 16, 2007

O mundo virtual conquista o real e vice-versa

Por Julia Dietrich, do Aprendiz

De jogos interativos à escrita colaborativa: as novas mídias e a Web 2.0 (idéia que torna o ambiente online mais dinâmico, com a participação dos usuários na organização do conteúdo) diminuem cada vez mais as fronteiras entre o real e o virtual. As novas tecnologias conduzem os jovens, que cresceram durante este processo, para meios e formas de comunicação até pouco tempo impensáveis.Nessa perspectiva, o editor de tendências do Núcleo Jovem da Editora Abril (que congrega diversas publicações voltadas para a juventude), Rafael Kenski, produziu o estudo “As sete tendências de Comunicação Para Falar com os jovens” (http://super.abril.com.br/ytrends/).

Com nomes e siglas, na maioria das vezes em inglês, o jornalista discorre sobre Big Games, Nanoconteúdo, Big Seed Marketing, Mob Maps, Creative Commons, Ficção Caótica e Alternate Reality Games (ARG).“As ruas estão ficando cada vez mais virtuais e os jogos cada vez mais reais”. A frase de Kenski resume, a grosso modo, o novo modo em que vivem os jovens. Para o editor, os gadgets (aparelhos tecnológicos) mais variados assumiram participação importante na vida dos jovens das classes A e B e sites como Orkut e o celular se tornaram indispensáveis.

Segundo a professora do IBMEC São Paulo, Amyris Fernandez, com o crescente aumento de CyberCafés e uma maior democratização do acesso às novas tecnologias, o dinheiro deixou de ser um empecilho. “Em Paraisópolis (comunidade de baixa renda paulistana) existem 28 pólos de Internet”.GamesTemidos por muitos educadores e admirados por outros tantos, os jogos virtuais já assumiram maior posição na educação e no entretenimento dos adolescentes e jovens adultos do século XXI. Talvez pela necessidade de aproximação com a vida real, a nova tendência é levar a esfera da fantasia virtual para dentro do cenário vivo, ao mesmo tempo em que o cotidiano ruma para dentro dos computadores e outras mídias. Exemplo disso são os chamados Big Games (Grandes Jogos) que fazem que o jogador utilize as mais diversas tecnologias (GPS, celulares) para realizar missões que ocorrem entre a vida real e os computadores.

Kenski contou sobre a recente iniciativa da emissora de televisão a cabo norte-americana Discovery Channel. “Os jogadores tinham que encontrar em um mapa virtual seis tubarões, depois pesquisá-los, fotografá-los, filma-los etc. Porém, esses tubarões e esse mapa eram reais.

O mapa compreendia uma área da costa Oeste dos Estados Unidos e os animais foram marcados com GPS que traduziam a exata posição que o tubarão estava”, conta. Além dos jogos voltados para natureza, os jogos da década de 1980, como Pac Man e Banco Imobiliário, também ganharam versões do tipo na Internet.Tudo rápidoPara Kenski, como a juventude está acostumada a estímulos múltiplos, a informação deve ocorrer de forma rápida. Como exemplo, ele citou o caso do vídeo da Marmota Dramática . Com apenas cinco segundos de duração, o vídeo já foi assistido por quase quatro milhões de espectadores que, entre outras conseqüências, fizeram camisetas com o bichinho e produziram inúmeros vídeos complementando e reconstruindo o original. “É preciso observar esse grande número de pessoas acessando algo sem aparente informação para entender como comunicar coisas relevantes”, explica.Outro exemplo citado por Kenski é o caso dos liquidificadores capazes de triturar qualquer coisa (http://www.willitblend.com/).

Com o slogan “Vai triturar”, a empresa começou a produzir vídeos, disponíveis na Internet, para testar e brincar com os liquidificadores superpotentes por ela produzidos. O apresentador, em uma de suas proezas, chegou a triturar um Iphone (celular da marca Apple) e as vendas do eletrodoméstico aumentaram 40%.Por isso as agências de publicidade e outros disseminadores de conteúdo fazem uso dos “virais” que, como o próprio nome indica, são sites, músicas ou textos que se propagam gratuitamente como se fossem epidemias para toda a rede de e-mails. “Cabe ao que divulga a informação entender o meio virtual e entender quais informações serão mais facilmente divulgadas para um maior número de pessoas”, diz.

Privacidade e propriedade

Com o maior número de pessoas utilizando essas novas linguagens, as formas de relacionamento entre os indivíduos e dos indivíduos com a sociedade se transformam constantemente.

Privacidade e vida pessoal, são conceitos que, de acordo com Kenski, devem ser revistos. “Os jovens estão disponibilizando inúmeras informações pessoais na Internet. Quando forem procurar um emprego, eles poderão encontrar um chefe que os condenará por aquilo que fizeram ou expuseram na rede”, conta.Assim como a vida pessoal muda, também muda a detenção e os direitos sobre as produções. Porém, como contraponto à máxima de que a Internet é terra de ninguém, a organização sem fins lucrativos, Creative Commons, disponibilizou licenças para que as pessoas decidam como querem suas produções reproduzidas.
“O ministro Gilberto Gil inclusive disponibilizou várias bases musicais para serem utilizadas”, observa Kenski, pontuando que o instrumento legal vem sendo utilizado mundialmente por governos a “internautas comuns”. O real na ficçãoAlém da produção individual na Internet, os novos tempos anunciam cada vez mais a colaboração entre os indivíduos.

Fãs de produções como Guerra nas Estrelas ou Harry Potter não só se comunicam em fóruns de discussão sobre as séries e livros, como aumentam e recontam suas histórias em sites especializados. “No Mugglenet existem mais de três mil pessoas reescrevendo as aventuras de Harry Potter sob a ótica de personagens menores da trama. E o conteúdo é mediado pela própria comunidade que freqüenta o site”, explica Kenski. Chamados de Ficção Caótica, pois permitem a interação das pessoas em obras já concluídas, esses portais estão sendo utilizados pelas agências de publicidade para falar com os jovens. “O jovem ouve o outro para decidir o que quer”, justifica o editor sobre a importância do fenômeno.

E, por fim, alcançando o grau de interatividade mais elevado até o momento estão os jogos de realidade alternativa, popularmente conhecidos como ARGs. O maior exemplo brasileiro foi desenvolvido pelo próprio Núcleo de Jovem da Editora Abril para a marca Guaraná Antártica.

Criando um imenso jogo que misturava missões reais e aventuras virtuais, o “Zona Incerta” congregou em torno de si mais de 300 mil jovens.“A brincadeira foi tão longe que a empresa fictícia Arkhos Biotech , que supostamente queria privatizar a Amazônia, apareceu nas falas do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) e na grande mídia brasileira”, conclui Kenski, novamente reiterando o imenso potencial que esses brinquedos do futuro já apontam no presente. (Envolverde/Aprendiz)

O jornalismo colaborativo não ameaça a profissão do jornalista

Isabelle Anchieta de Melo (*)

O chamado jornalismo colaborativo, que se refere à produção de imagem e texto por pessoas comuns divulgadas em sites especializados, não ameaça a existência da profissão do jornalista. O nascimento dessa forma de produção coletiva de saber surge motivado pela emergência das novas tecnologias e do modelo em rede. O que implica dizer que o acesso portátil, sem fio e leve das tecnologias, como a câmeras digitais, celulares, computadores móveis e etc, além da acessibilidade econômica dos aparelhos produziu esse efeito.

Assim, as pessoas passam a ter acesso aos instrumentos técnicos para registro do real. O que implica também em uma mudança cognitiva, ou seja, em uma mudança na forma de compreender e pensar a realidade. Hoje a informação não é mais centralizada em uma autoridade, mas torna-se descentralizada. Assim, não trata-se mais da imposição de uma verdade, mas da apresentação das múltiplas faces do real. Surge, assim, uma série de sites que trabalham com essa lógica, sendo o Wikipédia, a enciclopédia livre, o melhor exemplo. Trata-se de uma enciclopédia virtual em que as informações sobre a palavra são forjadas em conjunto.

Assim, cada pessoa pode contribuir para levantar informações sobre o assunto. Assunto, esse, que pode ser atualizado diariamente, ao contrário do que ocorre com as enciclopédias impressas. O que o teórico Pierre Lévy denominou de "plasmopédia", no sentido em que o conhecimento torna-se vivo, em fluxo constante. Assim, se antes o conhecimento tinha um "prazo de validade maior" e era centralizado nas mãos de alguns (mestres e doutores do conhecimento), hoje, contrariamente, presenciamos um conhecimento volátil, efêmero e produzido de forma coletiva.

É nesse espaço, em que o conhecimento torna-se um fluxo ininterrupto e em rede, que assistimos a emergência do jornalismo colaborativo. Porém, sua chegada está sendo marcada, equivocadamente, por previsões catastróficas quanto à profissão do jornalista.

No entanto, há um recurso muito rico quando estamos diante de algo novo, que é, paradoxalmente, voltar ao passado. Assim, antes mesmo dos jornais impressos (que consolidam-se no século XVII) e do estabelecimento do jornalista como profissional existiam outras formas de divulgar a informação. As novidades circulavam na forma oral e todos eram passíveis a divulgar um fato. Dessa forma, todos "colaboravam" para a circulação da informação. No entanto, a inexatidão das mensagens e a falta de comprovação dos fatos foram, paulatinamente, conformando a figura que hoje conhecemos por jornalista. E, é a própria sociedade que demanda um maior cuidado no apuro dos fatos – o que implica no domínio de certos métodos e técnicas de observação que nem todos eram capazes de dominar. Nesse momento surgem pessoas que são escolhidas para relatar os acontecimentos. São eles chamados de mensageiros, apregoadores e trovadores. Os mensageiros eram controlados por reis e líderes e garantiam a apuração e a seleção das notícias. Os apregoadores, por sua vez, eram mensageiros performáticos, além de gritarem as notícias gesticulavam de forma espetacular. Já os trovadores transformavam, literalmente, os acontecimentos, em músicas.

A passagem dos "boateiros" aos "mensageiros" marca o início do desenvolvimento de um modo de observar o real que será efetivamente consolidado como área profissional e como profissão no século XVII - quando o próprio termo "jornalista" aparece pela primeira vez. Com a profissionalização é que serão criadas, também, uma série de técnicas jornalísticas, hoje consagradas, como: o lead, a pirâmide invertida, além das noções de imparcialidade e objetividade. Assim, o "jornalista" é resultado de um longo processo histórico para forjar pessoas capazes de selecionar da realidade atual o que deve ser conhecido.

E, para configurar-se como uma profissão o jornalismo passa a atender, então, a dois pressupostos: possui um conjunto de conhecimentos esotéricos ou específicos e é reconhecido socialmente. Ou seja, a sociedade delega e confia naquele profissional como o único capaz de produzir conhecimento credível . O que implica, por fim, na institucionalização do jornalismo como área de conhecimento tendo como conseqüência a exigência de uma formação superior.

Assim, o jornalismo colaborativo, possui, sim, uma rede de "informantes" e "colaboradores", mas não de "jornalistas". Pois, mesmo os veículos especializados em jornalismo colaborativo possuem jornalistas que irão filtrar e apurar a veracidade das informações que lhe são repassadas. O que se tem, então, é uma rede maior de pessoas que produzem informação e imagens, o que não implica em dizer que temos um número maior de jornalistas – que devem, sim, ter uma formação humanística e técnica consolidada – dada a sua responsabilidade social na divulgação das informações.

Podemos dizer, então, que assistimos, hoje, a uma rica interação entre jornalistas e público e não, como querem alguns, uma concorrência entre eles. Pois, tanto os jornalistas recebem mais informações como o público consegue dar visibilidade a questões do seu interesse mais próximo e imediato. Falta, ao meu entender, uma abordagem mais equilibrada da questão que perceba as matizes, as hibridações e inter-relações que são constituídas e não apenas em uma perspectiva de concorrência e supremacia de uma esfera a outra. Não há, a meu ver, quem sai ou quem fica no processo, quem perde ou ganha, pois se trata de uma troca. Uma troca, porém, em que há, sim, papéis distintos e que são ricos exatamente por serem distintos.

Os jornalistas ganham, nessa relação, ainda mais relevância na e para a sociedade de comunicação generalizada. Pois, hoje, frente ao "tsunami" de informações, temos cada vez mais necessidade de "selecionadores" ou "buscadores" de informação (o que explica, em parte, o sucesso do Google). Assim, os jornalistas funcionariam como "googles", selecionando e hierarquizando, do conjunto de informações existentes, aquelas que merecem destaque. São profissionais munidos de técnicas e capazes de identificar o valor da notícia (ou os valores-notícia). Mais do que o fim do jornalismo vamos assistir a sua consolidação e valorização na organização e seleção de acontecimentos publicamente relevantes.

(*) Isabelle Anchieta de Melo é mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no curso de Comunicação Social - Fafich. É pesquisadora pela mesma instituição no grupo "Jornalismo, Cognição e Realidade" (JR), que tem como objetivo sistematizar, contextualizar e analisar as Teorias do Jornalismo. Foi apresentadora e editora do jornal da Globo em Minas Gerais. Repórter de documentários especiais pela TV Cultura (Rede Minas de Televisão). É professora de Teorias da Comunicação; de Estudos Avançados em Comunicação e Teorias do Jornalismo no Centro Universitário Newton Paiva.

Mudanças no site G1

Vale a pena dar uma olhada no vídeo.
O G1 tá todo de cara nova.
É legal observar as mudanças que foram feitas em prol da usabilidade do site.