sexta-feira, setembro 15, 2006

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Jornal O Tempo, Segunda-feira, 11 de Setembro de 2006, Ricardo Corrêa

A campanha eleitoral de 2006 está pegando fogo, com acusações entre candidatos e propaganda das coligações por todo lado... na Internet. Enquanto o clima nas ruas ainda não lembra nem de longe as eleições de outras épocas e o horário eleitoral na televisão e no rádio anda meio morno, é na grande rede que o confronto corre mais solto.

Para muitos candidatos, o lema agora é a troca de bytes por votos – seja em redes de relacionamento, blogs, sites de vídeo ou nos sites oficiais dos candidatos à Presidência da República e ao governo de Minas Gerais.

Nas páginas próprias, porém, o uso é comedido, sem grandes acusações, para evitar sanções da Justiça Eleitoral. O grande ensaio para a onda de propaganda eleitoral na Internet aconteceu durante o referendo do desarmamento, no ano passado.

O Orkut serviu como ferramenta de difusão das campanhas pelo sim e pelo não, aumentando a mobilização em torno da consulta popular.

Agora a Internet entra de vez na campanha pelos votos de 32 milhões de brasileiros conectados, principalmente após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ditar regras mais duras para a propaganda na rua.

Reunindo milhões de brasileiros em suas comunidades, o Orkut é utilizado como arma importante tanto para candidatos como para seus simpatizantes. Os tópicos servem para discutir, muitas vezes asperamente, as atitudes e a moral de um ou de outro candidato. Comunidades contra e a favor de concorrentes é o que não faltam.

Se nas pesquisas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera com folga, no Orkut é seu concorrente Geraldo Alckmin (PSDB) quem está na frente. O tucano possui a maior comunidade entre os presidenciáveis, com mais de 94 mil membros. Lula conseguiu reunir cerca de 50 mil perfis, praticamente a mesma quantidade da candidata do PSOL, Heloísa Helena.

Os candidatos com resultados menos expressivos nas pesquisas repetem o desempenho. Cristovam Buarque (PDT) conseguiu reunir menos de 2.000 membros em sua maior comunidade no Orkut. José Maria Eymael (PSDC), Luciano Bivar (PSL) e Rui Costa Pimenta (PCO) giravam, na semana passada, em torno dos 200.

As comunidades de Geraldo Alckmin e Heloísa Helena aproveitam para oferecer um serviço interessante, de adesivação da foto que é exibida no perfil do usuário do Orkut. O internauta envia sua foto através de um formulário e a recebe de volta com a logomarca da campanha do candidato.

A disputa pelo governo de Minas Gerais também ganhou as páginas do Orkut. E como nas pesquisas, Aécio Neves (PSDB) lidera de longe. A maior comunidade de Aécio Neves no serviço reúne mais de 3.400 membros. A de Nilmário Miranda (PT) não passa de 500. Vanessa Portugal (PSTU) também está representada, com cerca de 250 membros em sua comunidade.

Se os que gostam do atual governador no Orkut são muitos, os que odeiam também existem. A comunidade “Eu Odeio Aécio Neves” possui mais de 350 membros.

O candidato tucano tem também cerca de 1.500 admiradores mais empolgados, que em vez de usar a comunidade “Aécio Neves Governador”, preferiram “Aécio Neves Presidente 2010”, já imaginando o governador a caminho do Palácio do Planalto.

Para cientista político, falta interatividade

O cientista político Rodrigo Mendes gostou do que viu nos sites oficiais dos candidatos, mas fez uma ressalva: falta interatividade.

“Nenhuma página permite que o eleitor possa dialogar. E isso é o mais interessante da Internet. Quando tem, você tem que fazer um cadastro, não tem uma conversa mesmo, um chat”, explicou o cientista político, que elogiou o site do governador Aécio Neves.

“Um dos melhores que eu vi. Melhor inclusive que o do Geraldo Alckmin (candidato tucano à Presidência), usando quase todos os recursos possíveis”, afirma o cientista, que acha que a utilização da Internet ainda não ganhou tanta força no Brasil.

“Não é como a eleição norteamericana, em que já existem campanhas feitas quase só pela Internet mesmo, por e-mail, Orkut, comunidades, com especialistas trabalhando nisso”, diz Rodrigo Mendes.

No entanto, ele reconhece que as coisas já começam a mudar também aqui. “Já tem candidato comprando banco de e-mails e mandando informações para os eleitores”, conta.

Mendes ressalta que a Internet não é uma mídia de massa, e que a maior parte da população não acompanha a campanha que é feita neste meio.

“Apenas um conjunto específico da população utiliza a Internet. Mesmo que muita gente tenha acesso sem ter computador em casa, não vai se dar ao trabalho de entrar no site do candidato, por exemplo”, opina.

Apesar das ressalvas, o cientista político avalia que a rede tem papel importante para candidatos que querem falar com um público mais sofisticado.

“É uma ferramenta muito importante, mas deve ser observado que tem que saber usar, senão o efeito é contrário. Não adianta criar um espaço para que o eleitor dê sua sugestão, se não houver alguém que responda”, alerta o cientista político.

Segundo o Ibope, que criou recentemente um produto para auxiliar os candidatos e partidos no uso da Internet, são cerca de 32 milhões os brasileiros maiores de 16 anos conectados à web. Significa dizer que 25% do total de eleitores já possui acesso à rede.

Na apresentação de seu produto, o Ibope pondera, como Rodrigo Mendes, que o poder da Internet como ferramenta para conquista de votos é pequeno, pela abrangência limitada.

Mas ressalva que “por outro lado, nosso país apresenta elevado uso de sites de comunidades, blogs e videoblogs, o que mostra um potencial para que simpatizantes divulguem para seus amigos e conhecidos informações sobre as candidaturas, podendo até gerar pautas para a grande mídia”. É nisso que apostam os candidatos.

Sites oficiais têm até aplicações para muro

Os sites oficiais dos candidatos estão mais sofisticados nestas eleições. Rigorosamente fiscalizados pela Justiça Eleitoral, as páginas dos principais candidatos à Presidência e ao governo do Estado exibem materiais oficiais de campanha e programas eleitorais.

Se no YouTube e no Orkut as críticas dos eleitores são ásperas, nos sites oficiais as coisas estão bem mais calmas.

De acordo com o cientista político Rodrigo Mendes, a Internet, que na eleição anterior serviu para acusações e ataques, agora ganhou outra função. “Nesta eleição está diferente. Eu acho que isso reflete o momento. Os sites estão sendo mais usados para passar informações para a imprensa”, diz.

O site do presidente Lula é um dos que apresenta mais recursos para o internauta-militante. Adesivos, cartazes e até a foto oficial dele estão lá.

Os jingles, marca das campanhas petistas, também podem ser baixados na versão original, em samba ou em axé. Há também a Rádio 13, com informações sobre a campanha do petista.

No site da campanha de Geraldo Alckmin, os programas de televisão, jingles e materiais de campanha também estão presentes. A arte de banners, folhetos e até aplicações em muro podem ser obtidas.

Um recurso interessante é a “foto com Alckmin”, para que os eleitores que tenham sido clicados com o presidente em alguma atividade de campanha possam ver e imprimir as fotos.
A terceira colocada nas pesquisas, Heloísa Helena, também fornece a arte de materiais de campanha para seus apoiadores.

O blog do Cristovam, dentro do site do presidenciável Cristovam Buarque, é uma das marcas da campanha do pedetista. Além do blog, o site oficial do pedetista traz vídeos, áudios, fotos e o jingle da campanha, além do programa exibido no horário eleitoral gratuito.

Na página o militante pode encontrar os chamados “kits de mobilização”, para implementar uma campanha por e-mail, Orkut e MSN Messenger.

Vídeos proibidos na TV passam livremente no YouTube

A grande novidade on-line nas eleições de 2006 atende pelo nome de YouTube. O site reúne uma coletânea de vídeos publicados por todo tipo de internauta, que variam de muita a nenhuma qualidade. De gente comum a assessores de candidatos, dispostos a construir ou desconstruir uma candidatura.

Uma das surpresas do eleitor que acessa o YouTube é a presença de vídeos proibidos pela Justiça Eleitoral.

É o caso de um vídeo da campanha do presidente Lula. Com veiculação na TV embargada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o vídeo em que ele compara seu governo ao de Fernando Henrique Cardoso pode ser visto sem problemas no site.

Um programa eleitoral da candidata ao governo de Minas, Vanessa Portugal (PSTU), com trecho proibido pela Justiça Eleitoral mineira, também está no portal de vídeos.

Muitos assessores aproveitam para colocar, no YouTube, entrevistas e programas eleitorais dos candidatos. Aécio Neves (PSDB), por exemplo, tem uma série de discursos e entrevistas publicadas, incluindo uma exclusividade: a íntegra da participação do candidato na sabatina promovida pelo jornal “Folha de S.Paulo”.

Se os bons vídeos dos candidatos aparecem, suas mancadas também não ficam impunes. Imagens antigas, com declarações que agora escapam ao que os candidatos pregam, são as preferidas.

José Serra (PSDB), que tenta o governo de São Paulo, não conseguiu esconder, na Internet, sua declaração de que ficaria na Prefeitura de São Paulo até o fim do mandato. Um vídeo em que responde à pergunta do jornalista Boris Casoy entrega o tucano.

Lula também sofre no YouTube. O site veicula um vídeo em que ele trata pejorativamente a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, dizendo que a cidade “é pólo exportador de veados”. Em outro vídeo, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) o chama de “ladrão”.

O YouTube ainda tornou-se uma janela para que candidatos estranhos e diferentes ganhem visibilidade. Muitas vezes sem objetivos eleitorais, com o intuito simplesmente de divulgar uma situação engraçada, os internautas publicam vídeos de campanhas eleitorais atuais ou antigas. É só pesquisar no site.

Matéria retirada de: http://www.otempo.com.br/politica/lerMateria/?idMateria=60937